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Itaqueri-SP: Terra de Ulysses Guimarães
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*Zuleica Mesquita, especial para o Blog

Subimos a Serra do Itaqueri no interior de São Paulo. Estamos no município de Itirapina, antigo Distrito de Rio Claro, na Vila de Itaqueri da Serra. É um dia luminoso de verão. Entramos numa estradinha acanhada com resquícios de um asfalto longínquo que logo desaparece, ladeada por edificações simplórias. O caminho nos conduz ao centro do vilarejo. Casas fechadas. Silêncio só quebrado pelo canto dos pássaros. Ninguém parece habitar essa aldeia fantasma.

Seguimos um pouco mais adiante e encontramos pelo menos três casinhas centenárias já restauradas e uma igrejinha simpática num largo que teria sido o coração da vila. Estacionamos em frente ao santuário e, do nada, surge uma jovem sorridente. Nos apresentamos e indagamos sobre a casa onde teria nascido o Dr. Ulysses Guimarães. “É essa”, ela aponta para uma casa fechada pintada de verde-escuro com uma placa indicando ‘Cartório’, “mas, já não temos cartório aqui, usamos o Cartório de Itirapina” ela diz. Indagamos também sobre a existência de parentes dele pela vila. Ela conta vagamente que seu padrasto seria um parente distante do tão nobre brasileiro. Sem saber informar mais, ela se vai, sumindo numa trilha, campo adentro.

Casa onde nasceu Ulysses

Fotografamos a casa simples onde nasceu no dia 6 de outubro de 1916 um menininho que se chamou Ulysses Guimarães e que viria a ser um dos maiores arquitetos da democracia que o Brasil conheceu. Nem mesmo uma única placa mencionava seu nome. Em frente à casa, uma figueira centenária bastante mutilada por podas impiedosas ainda esparrama a sombra acolhedora que abrigou o primeiro discurso político de Ulysses Guimarães em 1940. Seguimos adiante e, depois de uma série de portas e janelas fechadas, encontramos uma senhora pobremente vestida, suando em bicas, que nos deu algumas informações sobre a pessoa que poderia nos contar a história da vila. Como não a encontramos, partimos com a promessa de voltar com nossas câmeras para fazer contato com a pessoa e fotografar a Capela. Segundo consta, é revestida com azulejos portugueses e guarda histórias do século XVIII, primórdios da Vila e do tempo de seus primeiros povoadores vindos da Ilha da Madeira.

Voltamos no domingo pela manhã e, desta feita, conseguimos entrar na Igreja pegando a chave com um morador. Grata surpresa. O interior do santuário está perfeitamente restaurado. Os azulejos portugueses decorados com figuras bíblicas estão perfeitos. O piso em ladrilho hidráulico e os bancos em madeira maciça, em ótimo estado. Tudo muito limpo e preservado. Uma jóia de arte sacra, não lembra em nada o abandono da vila lá fora. Na galeria, um órgão permanece adormecido à espera de que algum músico de passagem lhe dê pelo menos o benefício de um “acorde”. No altar, a imagem de Nossa Senhora da Conceição, trazida de Portugal no século XIX aguarda pacientemente algum fiel que ainda queira ser abençoado.

 

Igreja de Nossa Senhora da Conceição

 

Interior da Capela, toda restaurada

A escola pública onde, com certeza, estudou Ulysses Guimarães é a imagem da decadência. Carteiras empilhadas comidas por cupins. O pátio vazio. Não há alunos. No galpão coberto, onde outrora, certamente, as crianças entoavam o hino nacional antes da aula, apenas um velho automóvel estacionado.

Essa vila tristonha, é o retrato de um Brasil rural. As pequenas povoações eram cheias de vida e atividade até os anos 30. Ali se discutia política, negócios, casamentos. Ali casava-se, batizava-se, enterrava-se… Itaqueri da Serra foi sede do hoje município de Itirapina e teve seus dias de glória: armazém, farmácia, médico, um posto da americana “Standard Oil” para venda de derivados do petróleo, até cinema, segundo relatos de uma moradora que detém a memória da vila. As festas da Igreja eram concorridíssimas.

A chegada da locomotiva a vapor a uma estaçãozinha abaixo na serra foi levando os moradores da vila para as proximidades da parada do trem, hoje centro do município de Itirapina.

Nessa aldeia quase fantasma sobrevivem 26 habitantes, retardatários que perderam a última carroça que desceu a serra há muitos anos. Um ou outro, às vezes, bota a cara na janela bocejando. O tempo parou por aqui. Sobre seu mais ilustre filho, o Dr. Ulysses Guimarães, não há menção sequer da casa onde nasceu, da igreja onde foi batizado, da escola onde estudou até aos 11 anos. Esse esquecimento imperdoável nos faz pensar que nossas dificuldades políticas, nossa democracia capenga, nascem também desse nosso Alzheimer coletivo, dessa falta de respeito por figuras que, se lembradas, nos fariam saber que já tivemos homens públicos decentes e que nem sempre nos sentimos brasileiros e brasileiras tão miseráveis como hoje.

Ulysses Guimarães, figura central do processo de redemocratização do Brasil sumiu no mar num acidente de helicóptero em Paraty, Rio de Janeiro em 12 de outubro de 1992, aos 76 anos. Sumiu também da memória embotada dos brasileiros e brasileiras. No pequeno Cemitério de Itaqueri da Serra, em péssimas condições de conservação, há um jazigo da família Guimarães. Ali estão sepultados sua mãe e outros familiares.

Sobre a autora: Zuleica Coimbra Mesquita ama viagens. Mais do que visitar monumentos explorados nas rotas turísticas, procura afundar-se pelos becos e ladeiras das cidades que visita, em busca de captar o espírito do lugar, a alma do povo.

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